quinta-feira, setembro 15, 2005

Poesia caipira




Vô contá como é triste, vê a veíce chegá,
vê os cabêlo caíno, vê as vista incurtá.
Vê as perna trumbicano, com priguiça de andá.
Vê "aquilo" esmoreceno, sem força prá levantá.
As carne vão sumino, vai parecêno as vêia.
As vista diminuíno e cresceno a sombrancêia.
As coisa vão encurtano, vão aumentano as orêia.
Os ôvo dipindurano e diminuíno a pêia.
A veíce é uma doença que dá em todo cristão:
dói os braço, dói as perna, dói os dedo, dói a mão.
Dói o figo e a barriga, dói o rim, dói o pumão.
Dói o fim do espinhaço, dói a corda do cunhão.
Quando a gente fica véio, tudo no mundo acontece:
vai passano pelas rua e as menina se oferece.
A gente óia tudo, benza Deus e agradece,
correno ligeiro prá casa, procurano o INSS.
No tempo que eu era moço, o sol prá mim briava
Eu tinha mil namorada, tudo de bão me sobrava.
As menina mais bonita, da cidade eu bolinava.
Eu fazia todo dia, chega o bichim desbotava.
Mas tudo isso passô, faz tempo ficô prá tráis
as coisa que eu fazia, hoje num sô capaiz.
O tempo me robô tudo, de uma maneira sagaiz.
Prá falá mesmo a verdade, nem trepá eu trepo mais.
Quando chega os setenta, tudo no mundo embaraça.
Pega a muié, vai pra cama, aparpa, beija e abraça,
porém só faz duas coisa: solta peido e acha graça

terça-feira, setembro 13, 2005

O esterco e as laranjas




Esta história fala-nos de um alto executivo que, muito stressado, foi ao psiquiatra.
O médico, experiente, em muitos casos idênticos, logo diagnosticou ao paciente os males dos tempos modernos dos executivos: ansiedade, tensão e insegurança. Disse então ao paciente:
- O Sr. precisa de se afastar, pelo menos por duas semanas, da sua actividade profissional. O conveniente é que vá para a província, se isole do dia-a-dia e procure algumas actividades que o relaxem. Com dois livros na mala, 5 CD's do Marco Paulo e 3 do Quim Barreiros, um portátil e três jogos de computador, mas sem o telemóvel.
O executivo partiu para a quinta de um amigo ministro, no Alentejo. Passados os dois primeiros dias, o executivo, não tendo conseguido instalar nenhum dos jogos no portátil, já tinha lido meio livro e ouvido todos os CD's por seis vezes. Continuava, no entanto, ainda muito inquieto. Pensou então que alguma actividade física poderia ter algum resultado na ansiedade que ainda o dominava. Chamou o feitor da quinta e pediu-lhe que lhe arranjasse alguma actividade para ele fazer. O feitor ficou meditativo, mas ao ver uma carrada de estrume que havia acabado de chegar, disse-lhe:
- O Sr. pode ir espalhando aquele esterco naquela área ali que está preparada para o cultivo do milho.
E ficou a pensar para si, divertido: "Ou vai desistir logo, e não me volta a chatear, ou pelo menos fica entretido uma semana". Puro engano. No dia seguinte o executivo já tinha espalhado o esterco todo pela área, de uma forma uniforme, e em duas camadas.
Foi pedir ao feitor nova tarefa. Este, francamente admirado, disse-lhe:
- Bem, estamos a começar a colheita das laranjas. O Sr. pode ajudar-nos. Leve ali aquele carrinho com os três cestos, e vá colhendo as laranjas separando-as por tamanho. As pequenas no primeiro cesto, as médias no segundo e as maiores no outro.
No dia seguinte o gestor levantou-se com o cantar do galo e partiu para o pomar/laranjal. No final do dia, já a noite avançava, e ele ainda não tinha regressado. Preocupado o feitor dirigiu-se ao laranjal. Quando lá chegou viu o executivo com uma laranja na mão, os cestos completamente vazios enquanto repetia para si mesmo:
«Esta é grande! Não... é média. Ou será pequena???????- É pequena, de certeza. Não... é grande. Ou será que é média???????Pequena, deve ser pequena. Não... parece-me muito grande para ser pequena. Será que é grande???????»


Moral da história:


Espalhar merda é fácil. O difícil é tomar decisões.